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Empresas ainda falham em integrar saúde mental ao negócio

Estudo da Marsh McLennan revela que apenas 27% das empresas no Brasil possuem estratégias integradas de saúde mental

O estudo “Redefinindo a Saúde Mental 2025”, conduzido pela Marsh McLennan com 149 organizações brasileiras, traça um panorama profundo sobre a maturidade emocional das empresas em relação à saúde mental no trabalho. A pesquisa aponta que 75% das empresas já destinam orçamento para ações de bem-estar emocional, mas 38% ainda tratam o tema de forma isolada, sem conexão com o planejamento estratégico ou com as metas de ESG — meio ambiente, social e governança.

Apesar do avanço, 2 em cada 5 organizações ainda não consideram a saúde mental como parte de sua estratégia de sustentabilidade, mesmo em um contexto global que reforça o bem-estar como indicador essencial de longevidade empresarial. A boa notícia é que 68% das empresas afirmam estar alinhadas com o Pacto Global 2030 da ONU, demonstrando uma consciência crescente de que cuidar das pessoas é também cuidar do planeta e do futuro dos negócios.

Diagnóstico: entre o discurso e a prática

A pesquisa revela um descompasso entre intenção e ação. Embora o tema esteja cada vez mais presente nas pautas de sustentabilidade, 42% das organizações não possuem planos definidos para implementar programas de saúde mental. Entre as que têm alguma estrutura, 67% contam com um programa ativo, mas 74% dos coordenadores não possuem formação específica na área, e 65% das empresas não sabem ou não possuem orçamento destinado exclusivamente ao tema.

Essa lacuna reforça uma postura reativa: as empresas agem apenas diante de crises ou casos pontuais, e não com políticas estruturadas de prevenção. Apenas 27% das organizações possuem esquemas integrados de gestão da saúde mental, combinando mapeamento de riscos, comunicação, educação e encaminhamento de casos — o que representa um grande potencial de evolução.

Estigma e cultura organizacional: o desafio invisível

Eliminar o estigma ainda é uma das barreiras mais persistentes. Sete em cada dez empresas desenvolvem programas ou campanhas para combater o estigma relacionado à saúde mental, e 99% realizam ações educativas, como palestras, conversas e oficinas. No entanto, apenas 31% medem a efetividade dessas iniciativas, o que dificulta o aprimoramento contínuo das práticas.

A cultura corporativa também emerge como fator determinante. 71% das empresas avaliam o clima organizacional e 68% medem engajamento e cultura, mas 30% ainda não monitoram fatores psicossociais críticos — elementos diretamente ligados a burnout, ansiedade e depressão. A falta de métricas impede que as companhias transformem dados em estratégias eficazes.

A ausência de políticas estruturadas

A pesquisa expõe uma fragilidade sistêmica: 76% das empresas não possuem políticas específicas de gestão da saúde mental. Embora 92% contem com normas de combate ao assédio e abuso sexual, a ausência de diretrizes formais sobre saúde emocional e reintegração pós-doença demonstra que o tema ainda é tratado como secundário. Apenas 24% possuem políticas corporativas para saúde mental, e menos de metade adota planos de reintegração ao trabalho após afastamentos por transtornos emocionais.

Burnout e riscos psicossociais: a epidemia silenciosa

O esgotamento profissional é um dos temas mais críticos do levantamento. Metade das organizações brasileiras não possui ações voltadas à gestão do burnout, e 26% limitam-se a estratégias de comunicação, sem planos preventivos ou acompanhamento contínuo. Apenas 6% realizam medições específicas de burnout associadas a planos de educação e encaminhamento de casos.

Essa falta de preparo tem reflexos diretos no absenteísmo e na produtividade. Embora 44% das empresas coletem dados sobre ausências ligadas à saúde mental, 17% não utilizam nenhuma ferramenta de monitoramento — seja digital ou humana. O estudo alerta que a ausência de dados estruturados compromete a capacidade das organizações de reagir preventivamente.

Liderança e segurança psicológica: o elo mais frágil

Os líderes são apontados como o fator-chave para um ambiente emocionalmente saudável — e também como o ponto mais vulnerável. 65% dos líderes só participam de ações obrigatórias, enquanto apenas 9% se envolvem desde o planejamento das estratégias. O engajamento genuíno da liderança é decisivo: quando os líderes participam ativamente de programas de saúde mental, há redução significativa de estresse e aumento da confiança das equipes.

Apesar disso, 40% das empresas indicam que seus líderes não promovem um ambiente psicologicamente seguro, e apenas 29% oferecem atividades de autocuidado e bem-estar voltadas a eles mesmos. Essa desconexão limita a capacidade de reconhecer sinais precoces de sofrimento emocional entre as equipes.

Inclusão e diversidade emocional: o novo horizonte do bem-estar

Outro ponto de destaque é a integração entre saúde mental e diversidade. Embora 77% das empresas afirmem garantir acesso equitativo aos programas de saúde mental, somente 68% oferecem ajustes razoáveis — como realocação ou redesenho de função — para profissionais com condições emocionais específicas. Além disso, 51% das organizações não consideram aspectos de diversidade, equidade e inclusão (DE&I) em seus programas de risco psicossocial.

A pesquisa sugere que um ambiente verdadeiramente inclusivo deve incorporar a saúde mental como parte central da agenda de equidade, especialmente diante da diversidade geracional: 52% dos colaboradores têm entre 22 e 37 anos, e 48% estão acima dos 38, o que exige políticas adaptadas a diferentes estágios de vida e necessidades emocionais.

Tecnologia, IA e o futuro do cuidado emocional corporativo

A transformação digital começa a alcançar a esfera da saúde mental, mas ainda timidamente. Apenas 42% das empresas utilizam plataformas tecnológicas para educação emocional, e menos da metade valida a qualidade dos conteúdos oferecidos. O uso de ferramentas de diagnóstico digital também é incipiente: 44% das organizações já testaram aplicativos ou softwares para triagem psicológica, mas mais de 50% desconhecem tais tecnologias.

A inteligência artificial surge como um divisor de águas. No entanto, 95% das empresas não utilizam IA em seus processos de gestão de saúde mental, e apenas 5% exploram recursos de IA generativa para comunicação e intervenções. A Marsh McLennan alerta que a IA pode ser uma aliada estratégica — desde que utilizada com responsabilidade, garantindo privacidade, regulamentação e validação profissional.

O papel estratégico da saúde mental na performance corporativa

A correlação entre saúde mental e desenvolvimento profissional é clara: 66% das empresas oferecem remuneração alinhada ao mercado, 67% têm sistemas de reconhecimento estruturados, e 64% mantêm programas de desenvolvimento de carreira. Esses fatores atuam como “antídotos” contra o estresse crônico, fortalecendo o senso de propósito e reduzindo a rotatividade.

Segundo o relatório, quando o colaborador se sente cuidado, reconhecido e com oportunidades de crescimento, a empresa também colhe frutos: equipes mais engajadas, produtivas e emocionalmente estáveis.

Um chamado à ação

O relatório “Redefinindo a Saúde Mental 2025” conclui com um alerta contundente: o cuidado emocional não é mais opcional — é uma exigência estratégica e moral das organizações modernas. As empresas que tratam a saúde mental como parte central de sua cultura de sustentabilidade estão mais preparadas para reter talentos, inovar e se adaptar às transformações do mercado.

Para a Marsh McLennan, “a gestão integral do bem-estar emocional nas organizações facilitará a construção de culturas sustentáveis, onde a saúde mental não seja apenas um valor declarado, mas uma prática concreta que impacta positivamente na produtividade e na sociedade”.

O desafio, agora, é transformar dados em decisões e boas intenções em políticas reais. Afinal, como destaca o estudo, “é hora de redefinir a saúde mental — e com ela, o futuro das relações humanas e corporativas.”